Título
São Francisco das Chagas
Número de registro
809
Denominação
Santo de roca
Classificação
Local de produção
Data de produção
Acervo
Museu do Diamante
Procedência
Igreja de São Francisco | Diamantina | [Minas Gerais]
Autor
Material/Técnica
entalhe | madeira | policromia | tinta
Temas
Altura (cm)
88
Largura (cm)
35
Profundidade (cm)
21,5
Resumo descritivo
Santo de roca, de médio porte, confeccionado em madeira (jacarandá mineiro) entalhada e policromada, representando São Francisco das Chagas. Figura masculina, jovem, de pé, com cabelos estriados, em tonsura, tendo orifício na parte superior da cabeça (possivelmente para encaixe de resplendor). Cabeça em posição frontal, com rosto magro, tez com carnação em tom bege, testa larga, orelhas aparentes, sobrancelhas pintadas em tom castanho claro, olhar sereno, olhos castanhos (de vidro), nariz aquilino, com narinas bem delineadas, boca pequena com lábios pintados em tom vermelho, bigode e barba espessa entalhados em linhas sinuosas, e pescoço fino. Nas laterais do rosto, linhas de recorte seccionado aparentes para encaixe dos olhos de vidro. Corpo parcialmente entalhado (até a altura do quadril), com peitoral robusto e cintura bem marcada. Braços com dupla articulação (ombros e cotovelos), tendo antebraços e mãos entalhados e com carnação em tom bege. Antebraço direito da escultura com representação de ossos e veias em relevo, com dedos voltados para dentro, tendo a ponta do polegar encostada na ponta do dedo indicador (possivelmente para segurar atributo), além de orifício na extremidade do antebraço. Antebraço esquerdo da peça com orifício, assim como a palma da mão. Dedos da sua mão esquerda quebrados. Estrutura de sustentação da parte inferior composta por três ripas verticais (do quadril aos pés) fixadas por pregos à base octogonal. Parte posterior, correspondente às costas com recorte retangular (possivelmente para tornar a peça mais leve para o transporte). Na base, orifício para encaixe de eixo central de madeira (inexistente), além de duas ripas correspondentes às pernas. Não apresenta a caveira (atributo existente na foto antiga).
Dados históricos
Sobre São Francisco de Assis (1182-1226): “Nascido em Assis, na Úmbria, Itália, filho de rico comerciante, Francisco sonhava com as glórias militares. A partir de 1206, convertido ao Evangelho, distribuiu os bens paternos entre os pobres. Deserdado pelo pai, abandonou Assis e asilou-se nas ruínas ad Igreja de São Damião, que passou a reconsrtuir. Dedicou-se inteiramente à prática da caridade e humildade, começando a ser imitado por alguns seguidores. Em 1209, consegue do Papa Inocêncio III a aprovação da Ordem dos Frades Menores; com Santa Clara, fundou a Ordem das Clarissas e, em 1221 nascia a Ordem Terceira Franciscana, constituída por leigos./ No Monte Alverne, onde meditava e orava, recebe os estigmas de Cristo./ Sua festa é celebrada a 4 de outubro./ É representado como homem magro, de tonsura e barba, trazendo no corpo os estigmas de Cristo. Veste hábito marrom ou preto, com capuz e cordão de três nós à cintura e os pés geralmente descalços. Como atributos, traz o crucifixo, a dupla cruz, ou Cruz de Lorena, o rosário, o cilício, um livro, uma caveira, pássaros ou pombas. Nas cenas de representação do Monte Alverne, aparece ajoelhado, ou em pé, diante de Cristo crucificado, ou abraçando-o do lado direito, como se estivesse descendo Cristo da cruz./ (...) Em representações mais freqüentes, São Francisco aparece de pé, trazendo numa das mãos, um crucifixo e na outra, uma caveira. Aparece ainda mostrando as mãos chagadas, sendo então chamado São Francisco das Chagas.” (1) Sobre Arte Sacra: Era a religião o principal fator comum na sociedade colonial brasileira setecentista. A religião católica, com a variedade do seu culto, estava presente no dia-a-dia, quer nos jejuns e abstinências, quer através de ofícios divinos, confissões e comunhões, quer com procissões e festas religiosas./ A devoção religiosa no antigo Arraial do Tijuco foi descrita pelo viajante George Gardner (1942, p.384) da seguinte maneira: “A cidade conta três ou quatro belas igrejas; uma delas, chamada N.S. do Rosário, que pertence aos negros da costa da África, e tem sobre um elevado altar a imagem da Virgem preta. Como morávamos perto desta igreja, assisti muitas noites às celebrações de uma de suas festas a que se achavam presentes, além dos pretos que habitualmente freqüentavam a igreja, muitos dos mais respeitáveis representantes do sexo masculino e feminino da cidade./ Tudo se fazia com perfeita propriedade e certa noite ouvi excelente sermão pregado por um dos sacerdotes locais”./ Minas Gerais, província do ouro e do diamante, centro de riqueza do Brasil colônia por quase um século, teve condições excepcionais de possuir uma imaginária rica. Na significativa produção mineira, se destacam as pequena imagens domésticas adequadas aos oratórios, que, desde o fim do século XVIII, adornavam as casas de família. Estes oratórios, geralmente de pequeno porte, surgiram em face da fé religiosa e do aumento da população com a febre da mineração. Dentre esta produção podemos destacar os conhecidos oratórios D. João V. Com talha rococó e pintura interna, estes oratórios envidraçados são povoados com pequenas imagens de pedra, freqüentemente brancas, com pintura em algumas partes e pouca decoração em ouro, existindo em vários tipos, com tamanhos diversos ou apenas a caixa com o presépio. Foram largamente produzidos do fim do século XVIII até a primeira metade do século XIX, encontrando-se inúmeros exemplares em outros estados do país.” (2) Sobre Imagens de Roca: “As imagens de Roca ou de vestir, também conhecidas como “Bastidores”, são aquelas que têm parte do corpo esculpidas e outras em leve armação de madeira, tendo algumas todo o corpo esculpido mais com fino tratamento somente nas extremidades, como cabeça, mãos e pés. Podemos chamá-las, também, de imagens de procissão pois eram muito usadas para essas solenidades religiosas por serem mais leves e fáceis de serem adaptadas nos andores./ Como são vestidas, abriram vasto campo à imaginação e ao gosto da época. As Irmandades, devotos, doadores se esmeravam em cobrí-las com os mais finos e ricos tecidos e jóias./ Segundo o Prof. Valentin Calderon de la Vara, sua origem está ligada à Península Ibérica, onde desde a primeira metade do século XVI tornou-se popular o uso de colocar ricos mantos nas imagens de Nossa Senhora. De acordo com o gosto barroco na tentativa de aumentar o realismo e a dramaticidade, começaram a usar elementos postiços que davam aparência mais natural./ No Brasil, as imagens de roca se desenvolveram graças, especialmente, às Ordens Terceiras, se propagando motivadas, também, pela devoção e gosto popular. Vamos encontrar vários tipos como: (...) III – as que têm as partes do corpo sob as vestes em armação ou bastidores feitos de fina tábua, às vezes recobertas de pano engomado, quando em imagens femininas, para facilitar a composição das vestes. Neste caso, encontram-se a maioria dos exemplos: os que têm somente as pernas em armação; os que têm as partes nobres em papel maché, como algumas peças da coleção de Abelardo Rodrigues, segundo informações do Prof. Valentin Calderon de la Vara./ Na maioria dos casos, os braços são esculpidos com dupla articulação (ombro e cotovelo) e raramente tripla articulação incluindo o pulso. (...) Dentre as imagens mais conhecidas em roca, temos os Cristos representando os passos da Paixão, as Nossas Senhoras, especialmente Nossa Senhora das Dores, Santos Mártires e os Santos das Ordens Terceiras Dominicanas, Franciscanas e Carmelitas.” (3)
Referências bibliográficas/arquivísticas
(1) CUNHA, Maria José Assunção da. Iconografia Cristã. Ed. UFOP/ IPAC, Ouro Preto, 1993. Pág. 82-83. (2) PESTANA, Til Costa. In: Catálogo do Museu do Diamante. Ed. Iphan/ Ministério da Cultura. Pág. 23. (3) MARQUES, Lucia. Metodologia para o Cadastramento de Escultura Sacra-Imaginária. Ed. Contemp. Minas Gerais. Pág. 23-24.





